No começo não levaria tanto tempo. Era tudo provisório, voltávamos para casa e estocávamos alimentos para semanas, certos de que logo encontrariam solução definitiva para o quadro – qual quadro, não sabíamos então, apenas que uma doença se espalhara e o remédio era recolhimento, isolamento, um retorno ao interior, no contato social o risco maior, uma escapada para dentro.
Em duas semanas completamos um ano desde março, mês em que, salvo engano, decidiu-se que o melhor seria trabalhar de casa, e em casa permanecemos.
Agora já não há previsão. Mesmo a vacina se situa num horizonte impalpável. Pode ser que sim, pode ser que não. O mais provável é que não tenhamos vacina ainda neste ano. Entre idas e vindas, será outro ano de luta contra a doença para a maior parte de nós.
Um modo de ir levando as coisas entre normalidade e convulsão. Nem sadios para o dia a dia, nem doentes para o confinamento, adeptos da clausura como profilaxia, esgotados de um processo mediante o qual as energias foram drenadas.
A máscara, antes incômoda, passou ao natural, item incorporado totalmente ao cotidiano. O anormal assentado. O mesmo para os protocolos, que se banalizaram. O álcool gel, as pias na entrada, o termômetro apontado não para a teste, mas para o pulso, prova de que estupidez também foi agregada à rotina.
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