O amigo se queixa de outro amigo para quem o primeiro amigo é excessivamente irônico, um tom sempre acima do necessário, nas palavras a nota ácida que flerta com uma crítica injustificada. O amigo se vale da forma para não se deter no conteúdo, dispensando-se de refletir sobre o que lhe cabe: a conduta.
Enquanto o outro faz o oposto, concentra-se no conteúdo e não se preocupa com a forma, de modo que o efeito é o contrário do pretendido, ferindo mais que ajudando a mudar, impondo-se como presença e força mais do que como acolhimento.
Não sei como fazer, se digo a um que está errado corro o risco de me indispor e causar mais dissabores a ambos, que estão em via de rompimento. A contenda me faz lembrar o programa da vez, onde todos os participantes se alternam entre diatribes sem muito sentido, atritos que se resolveriam de maneira simples aqui do lado de fora, imagino, sem lembrar que, aqui do lado de fora, os dois amigos se dedicam a essa guerra fria sem fim, atacando-se mutuamente, agredindo-se desnecessariamente, anulando-se sempre, investindo energia e criatividade em mensagens torpedeadas nas redes sociais, que atingem audiência como mísseis balísticos alemães destroçando embarcações inglesas.
É um chorume sem tamanho do qual tento me esquivar, mas para o qual acabo sendo dragado sempre que entro aqui. Não sei o que seria desses dois amigos sem essa animosidade recíproca, sem esse desgosto compartilhado, sem esse azedume cultivado como se cultivam hortaliças num quintal, com empenho e dedicação todo santo dia e também um pouco de amor.
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