Não parece dezembro, pensei comigo na virada do mês. Talvez março ou abril, mas não nove de dezembro de dois mil e vinte. O fim do ano. O que ainda falta pra acabar. Mas não é como estivéssemos tão perto do fim depois de uma longa jornada. É mais como se não tivéssemos saído do lugar.
Estamos no início ainda, e o mês, antes de 30 dias, se prolongou até aqui, num maçante estirão de tempo. É abril, a fase aguda da doença. Lavo a louça em casa com a TV ligada, vou ao banheiro com a TV ligada, checo o celular quando acordo e vejo que esqueci a TV ligada. A TV ligada se tornou a paisagem sonora da casa, o ruído que se incorporou a uma linguagem doméstica.
Mas o calendário diz outra coisa. O calendário diz que o ano está acabando.
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