Perdoem a casmurrice, se pareci casmurro, é apenas o calor de Fortaleza neste dezembro infernal de confinamento ao cabo de dez meses quando, talvez sem razão, penso no Papai Noel do shopping.
Protegido atrás de um biombo de acrílico levantando-se de tempos em tempos para deixar-se fotografar ao lado de crianças a quem, por dificuldade, escuta muito baixo, mesmo com o sistema de som instalado de modo a facilitar a troca de confidências entre os pequenos e o velhinho, que se empoleiram nas pontas dos pés e lhe pedem de bonecos a PlayStation.
A fila interminável de pais e mães sobraçando sacolas, as máscaras, algumas caídas, inflando ao ritmo da respiração descompassada se precisam correr para atalhar um pequeno que escapuliu em direção a sabe-se lá que atrativo, um filhote exibido na vitrine da loja ou um palhaço que desfila sobre patinete elétrico fazendo acrobacias.
A mágica postiça do Natal reproduzida na grama sintética e na música que se repete a intervalos regulares e a qual a moça do trenzinho já não suposta ouvir, mas precisa porque é um emprego temporário cuja renda já está comprometida com as faturas que ainda vão chegar no ano novo.
O trenzinho, em si, muito inferior em termos de emoção e custo-benefício aos trenzinhos da avenida Beira Mar, banidos para todo o sempre depois da reforma que fez da principal avenida da cidade uma pista de pouso para novos modelos da Boeing no Brasil.
Penso nessas coisas sem jeito do mês final, tal como o calor, essas para as quais não temos solução, e então tudo o mais devia parecer bobagem, coisa menor, mas não é assim.
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