Liguei o computador apenas para confirmar o cansaço e a absoluta impossibilidade de escrever nestas condições, embora, minutos atrás, acreditasse realmente que, ligando-o, uma luz se acenderia e eu conseguiria escrever o que fosse antes de dormir, um parágrafo que compensasse as dúzias de outros tantos que fui despejando desleixado ao longo da semana até dar com o domingo e agora a segunda-feira. O início de uma coisa depois do término de uma outra cuja matéria eu também não conhecia muito bem.
Tudo a mesma bagunça, pensei, e de imediato lembrei de como os fatos – sempre eles – foram se emendando nos últimos dias, uma eleição e a sensação de que algo se alterava concretamente, ainda que nas ruas o passo fosse o mesmo, a reforma do apartamento vizinho, o homem que passa empurrando o carrinho de comida todo dia, enfim, esse cotidiano mais colado que não se desfaz ainda que o mundo vire de ponta-cabeça. É difícil arrancar as pessoas desse chão, eu mesmo me recuso a me afastar.
Quatro anos atrás, voltávamos de uma viagem quando o anúncio de vitória de Trump foi feito. Minha esposa dormia no meu colo naquela madrugada enquanto esperávamos o horário do voo. Mensagens nos alto-falantes informavam chegadas e partidas numa língua que não era a nossa. Em seguida embarcamos, e então era outra vida.
E agora? Foi no sábado que Trump foi derrotado e Joe Biden eleito o 46º presidente dos EUA, ou teria sido o 49º? Não importa, apenas que parece que foi noutra vida, noutra era. O governo Trump em si não soa mais como real, é como um acidente, um desvio no percurso, e é exatamente contra esse pensamento ilusório que me volto porque sei aonde ele pode levar quando tratamos a vida como um curso normal e qualquer hipótese de incidente apenas como um afastamento temporário dessa reta. Não há reta, e Trump faz parte disso tudo tanto quanto Bolsonaro e outros canalhas eleitos por aí afora. O erro é a contraface do acerto, não se equivalem, mas não existem um sem o outro.
Eu sabia que, se ligasse o computador agora, nada além do trivial seria dito, mas às vezes é esse trivial que nos salva.
Tudo a mesma bagunça, pensei, e de imediato lembrei de como os fatos – sempre eles – foram se emendando nos últimos dias, uma eleição e a sensação de que algo se alterava concretamente, ainda que nas ruas o passo fosse o mesmo, a reforma do apartamento vizinho, o homem que passa empurrando o carrinho de comida todo dia, enfim, esse cotidiano mais colado que não se desfaz ainda que o mundo vire de ponta-cabeça. É difícil arrancar as pessoas desse chão, eu mesmo me recuso a me afastar.
Quatro anos atrás, voltávamos de uma viagem quando o anúncio de vitória de Trump foi feito. Minha esposa dormia no meu colo naquela madrugada enquanto esperávamos o horário do voo. Mensagens nos alto-falantes informavam chegadas e partidas numa língua que não era a nossa. Em seguida embarcamos, e então era outra vida.
E agora? Foi no sábado que Trump foi derrotado e Joe Biden eleito o 46º presidente dos EUA, ou teria sido o 49º? Não importa, apenas que parece que foi noutra vida, noutra era. O governo Trump em si não soa mais como real, é como um acidente, um desvio no percurso, e é exatamente contra esse pensamento ilusório que me volto porque sei aonde ele pode levar quando tratamos a vida como um curso normal e qualquer hipótese de incidente apenas como um afastamento temporário dessa reta. Não há reta, e Trump faz parte disso tudo tanto quanto Bolsonaro e outros canalhas eleitos por aí afora. O erro é a contraface do acerto, não se equivalem, mas não existem um sem o outro.
Eu sabia que, se ligasse o computador agora, nada além do trivial seria dito, mas às vezes é esse trivial que nos salva.
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