O ato de desfazer o malfeito, reparar o trabalho operado em prejuízo de um coletivo, reverter o movimento das pás de máquinas e usá-las em favor de um reassentamento, devolvendo à praia o que lhe falta, a areia extraída de novo posta em solo, o ângulo de entrada no mar atenuado, a descida suavizada. Tudo isso é desaterro, é fazer bem o que se fez ao revés, ainda que com boas intenções ou talvez não tão boas assim. Imagino uma campanha na cidade, pessoas às voltas com os mais diferentes tipos de equipamento a fim de recuperar o que foi tirado, reaver aquele sentido de mar e de praia que a muito custo se foi consolidando, rejeitar essa imagem de praia-estacionamento ou praia-shopping, aonde se vai para o consumo dos bens, dos cardápios e das quinquilharias, e não ao descanso e à escapada do frenesi visual.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...
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