Ouvi de uma amiga que tinha saudades do “velho normal”, expressão não aspeada e portanto destituída de qualquer traço de ironia que usava para se referir a esse tempo que hoje parece deslocado.
O lugar de antes, um jurássico passado onde éramos outros, outras as demandas e outro o compromisso. O velho subitamente convertido em fator positivo, uma qualidade de que agora sentia falta ante o novo “novo” que, de novo, não tinha nada novo, apenas farsa ou falsificação.
Bom, eu lhe disse, talvez tenhamos de considerar a hipótese não de um velho, tampouco do novo, mas de um normal “normal”, acomodando-se aos poucos, uma realidade (detesto a palavra) que se impunha pelo que é, embora não soubéssemos de fato o que nos aguardava, se um mundo refeito depois da doença ou apenas repetição do antigo, sempre mais forte, sempre presente, sempre a força que se arrasta e chega a essa outra margem.
De todo modo, eu lhe falei, não tenho saudade, apenas a leve sensação de que vivi durante todos esses meses uma passagem, um trânsito, e nele me via de vez em quando como a personagem que se alegra e recupera vivacidade ante a chegada do planeta azul naquele filme do Von Trier.
Para mim o normal “normal” é a extensão desse sentimento de que eu estava preparado caso qualquer coisa acontecesse em meio a tanta confusão. Mais que preparado, eu estava ansioso.
Comentários