Às vezes é apenas uma imagem, noutras uma sucessão de quadros. O cômodo desarrumado, a mulher apenas de sutiã com o rosto contorcido, o homem sobre o seu corpo miúdo, a cama desfeita, os gritos.
O que fazia ali? Eu não lembro. Tinha cinco anos, talvez seis. Passara a tarde na casa da vizinha quando o marido chegara e a vira comigo. Encheu-se de fúria, bateu na mulher, ou julgo ter batido, não posso ter certeza. Não porque eu estivesse lá, por outro motivo – qual?
Fiquei encolhido no canto à espera do desfecho, mas posso também ter saído antes, enquanto discutiam e a mulher lhe atirava objetos ao alcance da mão. Cigarro, sapato, um vidro de perfume que se espatifou contra a parede e deixou a casa com esse cheiro por muito tempo e que agora subitamente recordo, sem entender por quê.
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