Passados seis meses de confinamento autoimposto e apenas quebrado ocasionalmente, como quando faltava goma de tapioca ou areia para as necessidades do gato, entendi que era hora de sair e gozar novamente do espaço púbico.
Quem sabe ir até a praia e caminhar pela calçada, recebendo no rosto aquele ar salgado de fim de tarde temperado pelo cheiro de milho cozido e urina.
Mas qual o quê. A praia já estava repleta, as barracas apinhadas de pessoas às voltas com mancheias de batata frita e cascos de cerveja, numa celebração que supus como o rompimento de um dique de barragem após anos de contenção.
Mas qual o quê, me surpreendi novamente quando o garçom, instado a explicar se aquele fenômeno se repetira nos finais de semana anteriores ou se registrava somente naquele em que eu havia escolhido deixar o recolhimento e aceitar o risco de estar lá fora, disse que esse estado de coisas era o mesmo havia pelo menos um mês.
Por aqui a pandemia é uma guerra perdida, arriscou, num falso abatimento.
Em seguida virou-se em direção à cozinha, de onde saiu uns minutos depois equilibrando duas porções de carne de sol numa bandeja de metal oxidado que fez aterrissar numa mesa vermelha onde dois casais brindavam a vitória contra o vírus.
Isso mesmo, um gole à vitória, disseram mais alto.
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