Frequentemente volto a esse texto que escrevi em maio de 2017. É um relato simples, quase ingênuo, mas que
parece carregar uma subtrama, guardar um segredo que, passado todo esse tempo,
ainda não sei qual é. Talvez o fato de que os móveis de casa estejam sempre
cheios de histórias, que se depositam como poeira e acabam se incorporando aos
materiais de que são feitos.
Então, quando quebram ou se
danificam de alguma maneira, a impressão que temos é de que a própria vida
também se partiu, e uma certa desordem se instaura a reboque dos pequenos
incidentes.
Mas talvez não haja nada nessa
história, e o texto, uma crônica que publicaria algum tempo depois no jornal da
cidade, seja apenas o que de fato é – mas é precisamente aí que começam as dificuldades. Decidir o que as coisas são e o que não são de fato. No momento exato em
que dissemos “de fato”.
Vale para os móveis, os mesmos
desde que nos mudamos, à exceção de uma estante de ferro onde mantenho uns
poucos livros na sala e um conjunto de cadeiras estropiadas. Vale pra gente,
que vez por outra quebramos e ficamos como esses utensílios sem préstimo,
mantidos numa gaveta porque temos um especial afeto por eles, os objetos
partidos.
É possível que essa história
por trás da história fale disso, das coisas quebradas que mandamos pro conserto
na esperança de que voltem, se não como novas, ao menos novamente
apresentáveis, de modo que possamos encostar nelas sem que se desfaçam ao
toque.
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