Talvez não exista outro modo de
ir avançando senão esse, tatear as coisas pelas beiradas, tocar cada uma antes
de finalmente experimentar.
E depois parar, dolorosamente parar. Um caminho
tortuoso, acidentado, mas que, depois de feito, guarda essa sensação de que
vale a pena.
Por ora me interessa essa forma
circular, um movimento giratório que parece às vezes não sair do lugar e,
todavia, é como um desses furacões que rodopiam em dois níveis: sobre o próprio
eixo e à frente, atraindo e repelindo ao mesmo tempo.
Salto agora. Reli trechos de
contos antigos, muito antigos. Casualmente encontrei o livro, do qual li partes
pulando. Apenas um se salva. É narrado por uma mulher.
Nos demais já não há essa força.
Não me agradavam antes, bem menos agora. Não se sustentam, não param em pé. Estão
vazios dessa verdade que não é apenas estética, mas pessoal também.
Uma verdade que projetamos no
que fazemos para que as coisas não se percam no oco.
Esse conto da menina é
diferente. Sua voz é audível, os gestos, a pressa, tudo nela tem algo que soa
muito perto de alguém, é como se vivesse. Dormi e sonhei com ela. Então
está perto, é o que quero dizer. É uma personagem, mas existe porque tudo nela
é verdadeiro.
Gosto da mulher e do seu amigo, o Marcus – com "u" mesmo, que é uma marca, como um sinal. Ela inventa
Marcus à medida que se inventa.
É uma ondulação interessante,
camadas de invenção sobrepostas, criar uma personagem que progressivamente
passa a ter necessidades.
Não tem nome ainda, talvez não
tenha nunca.
Do que sei dela, por enquanto,
é que precisa ir falando sobre Marcus durante muito tempo, soprando nos seus
pés e mãos, animando Marcus, que é um cara por natureza desanimado, levando-o a
passeio e dizendo a Marcus que faça isto ou aquilo.
Acho que não gosto de Marcus,
quem sabe até o fim do livro passe a vê-lo com outros olhos, até com certa
simpatia, mas, neste momento, não tenho gostado.
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