O professor escreve e pergunta se
há objeção quanto à mudança de horário da aula. Como ninguém respondesse,
assume a alteração.
Um seminário de filosofia sobre
a obra de Camus. Quatro aulas. Faltei à primeira.
Para a de amanhã consta que
precisaria haver lido uma obra que não li. Provavelmente faltarei também.
Mas há sempre essa hipótese de
que compareça e, já na sala, procure uma das cadeiras ao canto e lá fique por
duas ou três horas.
É um exercício de
desmaterialização esse de estar à margem, suspenso enquanto os outros falam,
tateando sentidos no fluxo de palavras. Ideias de uma galáxia alienígena. Outra
vida, suponho que a gravidade talvez maior empurre os corpos para baixo.
Na faculdade todos andamos
noutro ritmo. Gosto de estar no bosque por duas razões, primeiro por chamar-se
bosque e segundo porque se trata de um pedaço muito longe da cidade.
O professor então arremata
renovando o convite e repassando os compromissos que espera que seus alunos de
pós-graduação tenham cumprido nesse hiato entre uma aula e outra.
Não usa essa palavra, hiato. Tampouco
é áspero na cobrança. Eu que estou usando.
Voltar à universidade depois do
hiato de muitos dias no curso do qual mal reparei no fato de que preciso
urgentemente tomar um café na cantina da faculdade e estar mesmo sentado
naquelas mesas de madeira uns bons minutos.
Apenas pelo gosto de olhar os
outros.
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