Anotei, mas esqueci. Colado ao
tempo. O de agora, neste instante. Não o tempo de muito tempo atrás, tampouco o
futuro.
Talvez fosse o caso de escrever
bilhetinhos no caderno. Uma cor. O traço de um personagem. O sentimento ao fim
de um dia. Extenuante. Uma palavra que leva à outra etc.
Como se apagasse os rastros, ia
reescrevendo sobre papel já usado, mas cada vez que abria o caderno era como se lesse uma nova história.
Até mudava de pessoa. Era
automático. No meio da frase, a primeira cedia à terceira e então retomava a
anterior, numa narração pendular que assumia a pessoalidade ou a rejeitava
conforme a ocasião e a matéria.
Assim podia dizer: eu fiz. Ou: ele
fez. Eu falo, ele fala.
Uma história curiosa no
curso da qual essa modulação podia determinar não somente as vozes, mas também
o tipo de acidente e a duração dos fenômenos que seriam contados de agora em
diante.
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