Levei mais de um mês até poder
voltar. E agora estou aqui.
Me pergunto se é ficção ou
real. Se escrevo o que falo, e assim entendo melhor o que preciso entender. Ou se
invento o que preciso falar, e desse modo me afasto do que é mais necessário.
De qualquer forma, levou todo
esse tempo. Como uma volta para muito longe ao longo da qual vamos costurando
as pontas e suturando ao mesmo tempo, atando pele com ele, desatando os fios enredados.
Voltei por causa de um sonho.
Ontem, o San Pedro apareceu antropomorfizado. Não era o prédio em ruínas que é
na frente da praia, mas uma pessoa que me procurava e dizia que tinha coisas a
falar sem falar de fato.
O prédio, hoje apenas esqueleto
deixado a comer-se de maresia, de repente tinha esse rosto magro e cabelos mais
longos que me encarava e pedia para que entrasse mais fundo.
Não parasse em frente, mas
entrasse e conhecesse as dependências. As mortes, os suores, os gozos e o frio.
Ali dentro uma mulher parira uma menina, um homem se matara, um policial tinha
brincado com armas, a avó de um suicida colara nas paredes todas as fotos do
neto.
Entendi que era hora de voltar.
Reunir as sombras, situá-las em espaço e luz apropriados, apalpar o informe.
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