Fiz a arribação às avessas. Voltei pro sertão porque nunca
fui do sertão. Esta geografia morta não diz nada, garranchos de vegetação,
traços de um rascunho esquecido por algum viajante que passou por aqui e agora
já se estica em alguma cama de uma cidade que não sabemos qual é. Conhecia de
estudar e ler, figurações de uma vida, projeções de um universo, uma estética
de escola decorada às pressas para a prova do dia seguinte.
O sertão da literatura não é o sertão de verdade. O sertão de
verdade não é em toda parte, é exceção. Não é em parte alguma. É uma negação. Não
é lugar mágico. É uma travessia sem volta. Um encontro de morte que promovemos
quando a morte alcança de fato. Um lugar pra esquecer as dores. Deixá-las aqui
a morrer de fome e sede, perecendo dia após dia, desidratadas do mínimo de que
necessitam, viventes abandonados para que encontrem a própria sorte.
Mas não vim ao sertão pra morrer, vim pra chorar, cumprir o
rito e depois secar novamente. Morrer é mais fácil na capital. Basta um
descuido, e pronto. Na saída do banco,
na porta da farmácia, na parada de ônibus, depois de um mergulho no mar da
Praia de Iracema, voltando de uma festa pelo Centro, sacando dinheiro num caixa
rápido de supermercado, entrando no carro que pedi pelo aplicativo. Há muitas
hipóteses para a morte na cidade, todas previsíveis, despidas de qualquer sentido
e simbolismo. Mortes estúpidas.
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