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Exercício II

Ano passado desejei entregar tudo, a vida desmoronando aos bocados. Tudo sempre se danifica. Feito essas paredes nas quais mal encostamos e os pedaços de reboco úmido esboroam, espalhando-se pelo chão. A sensação de que o mundo está condenado.

A avó costumava dizer das coisas que não tinham mais expectativa. Estão condenadas. Era uma sentença. Esta camisa está condenada, esta comida está condenada, esta criança está condenada. Um arroz que a mãe salgasse porque estava distraída pensando no pai: está condenado. Uma parede que o pedreiro erguesse torta porque depois do almoço tomara uma pinga na bodega antes de voltar ao trabalho: está condenada.  

Quando minha mãe conheceu meu pai, ela uma menina e ele também, a avó resmungou na soleira da porta de casa: está condenada. A mãe não deu ouvidos. Jamais daria.

Precisei estar no sertão para descobrir que a água amolece e o sol cresta e quase tudo é morto antes de nascer. É uma lei natural. Sempre imaginei o contrário, mas não é. A água expande, convida ao movimento, o sol impõe uma quietude que é também uma espera. Quem está sob o sol ou está morto ou aguarda algo que possivelmente morreu.

Vim ao sertão pra esperar e matar. Cavar um buraco perto da serra nesta cidade cujas pessoas não conheço e a quem dou apenas boa tarde e boa noite e aqui deixar pra trás o passado que não toquei. Feito isso, deitar fora o peso do pai. 

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