Agora que chegamos à metade de não sei o quê,
o ano que termina antes do fim parece viagem sem agenda. Programação desfeita
em cima da hora.
É junho, e do meio pro desfecho é como um filme
cujo final está aberto e pra ele nos voltamos sem saber ao certo se o mocinho
morre. Até que descobrimos que não há mocinho nem bandido nem filme nem enredo
nem nada, apenas uma máquina de pinball e dentro dela esferas de metal se
chocando enquanto do lado de fora alguém empurra com força esses êmbolos ou
seja lá que nome tenha a ferramenta que desfere o golpe final.
E por golpe final me refiro ao gesto de
afastamento derradeiro. Uma força de origem indefinida cuja intensidade é
também mais inventada que real. Feito o amor, felicidade. Feito esse conjunto
de afetos que se juntam à força do acaso e depois dele se alimentam até que
também o acaso resolve pôr tudo a perder.
E perdidos andamos novamente. E perdidos
entramos mais uma vez no café ou na livraria e lemos o jornal e pagamos o
almoço e perguntamos um ao outro o que será que está em cartaz neste exato momento.
Mas perder-se não é a parte ruim. Nem o choque
de bolas metálicas. Nem o fato de que caminhamos rapidamente para a metade do
ano sem que a metade que passou esteja de todo compreendida.
Na verdade, a parte ruim é supor que haja
esse momento de mansidão confinada a uma certeza de que temos controle sobre
qualquer coisa.
Comentários