Abrir caixas, desembrulhá-las
como presentes que chegassem pelos Correios depois de muito tempo de espera. De
dentro delas pescar os objetos guardados por anos e anos, pastas empoeiradas,
livros, papéis inservíveis, revistas antigas cujas capas apresentam rostos que
desapareceram ou que agora simplesmente já não têm a importância que tinham.
Verificar nas caixas a passagem
do tempo, atentar para o que envelhece e o que ainda é presença, experimentar
uma transmissão de algo que não se perde e reconhecer que a matéria esboroa
sempre.
Ter com as caixas agora abertas
uma relação do mágico com a cartola da qual retira um a um utensílios
fantásticos com os quais ludibria a plateia.
Organizá-las por tamanho
apenas, nomes e cores e títulos misturados uns aos outros em duas estantes
apertadas contra a parede branca de uma cal lambuzada por mãos que não conheço.
E fotografar cada parte como
forma de ir tendo com o arranjo uma familiaridade perdida.
E nessa tentativa ir deixando
na caixa mais objetos do que pretendia retirar.
Comentários