Acho
que tudo não passa de uma tentativa de ser alegre. Falar, escrever como
se conversasse, trazer assuntos sobre os quais não trato usualmente, deixar de
lado certa formalidade nos modos, esquecer que o tempo é isto que pesa nos
ombros e eventualmente até dar de ombros quando tudo estiver muito fechado.
Agora
repito o título de um livro de que gostei muito: queria mais é que chovesse. Mas
não é que quisesse. Queria mesmo era sol, uma claridade abrindo-se no céu e
depois nuvens e alguns dias bons pras roupas secarem e essas poças d’águas na
cidade sumirem também.
Ontem
tive um sono agitado, atravessado de fragmentos, pedaços de não sei quê. Sonhos
são armarinhos da vida – miudezas que vamos esquecendo de repente aparecem e
ocupam frações intermináveis do nosso tempo enquanto dormimos.
Acordei
cansado, como se tivesse corrido a noite inteira ou fugido de algo que me
perseguia. Nos sonhos estou quase sempre em fuga.
Fugir é um dos temas da minha pesquisa. Falo
pouco sobre ela, e isso talvez seja uma fuga. Mas, mesmo quando a evito, ela
está aqui. Não há escape possível quando estamos no mundo.
Hoje faço um esforço grande para esticar um fio diante de mim e segui-lo por uns quarteirões sem desviar a atenção, sem me perder de sua reta, sem dobrar numa esquina. Apenas em frente.
É
um tipo de exercício.
Agora
é fim de tarde. Se eu for até o corredor, verei o sol morrendo atrás de uns
prédios do outro lado da avenida, no céu umas nuvens cinza de chuva ganhando
tonalidades claras enquanto ainda é dia.
Mas
talvez não vá até o corredor. Talvez fique bem aqui, farejando a linha e
tentando colocar um pé diante do outro. Reaprendendo a andar.
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