Agora entendo que tenha estado
tanto tempo longe. Voltar a falar é um erro.
Vejam como é a língua, inventa
territórios, funda impérios onde não há nada. Palavra mágica que consome e vive
do próprio gozo.
Uma conversa pessoal é sempre
essa busca de reinado fantástico e semeadura de vida onde quer que possa haver
vida.
A língua é contra a aridez, jamais
a favor. Por feroz e cortante, está plantando e nesse plantio espera e aguarda.
Nem que seja a comprovação de que nada brota, nada vive, nada fecunda.
Daí que falar sozinho seja tão
produtivo. Balbuciar, dizer uma novena íntima que ninguém jamais escute. Uma ladainha
que ninguém jamais ouça.
Lembro da imagem da ressaca na
praia umas poucas semanas atrás. A areia revolvida, as pedras deslocadas, os
bancos destroçados, tudo que era paisagem natural e memória coberto de
areia. Nada no lugar.
Uma tristeza, mas também alívio.
Não era apenas eu que me punha fora da ordem. Era tudo, o mar, as calçadas, o
vento, o guarda-sol arrastado e o letreiro da cidade enterrado feito uma dessas
novelas de fantasia onde almas perambulam pelas ruas em pleno meio-dia.
Não voltei à praia desde então.
O que encontraria? Passei a ter medo do mar, medo de que afunde na areia, medo de que tenham da
noite para o dia assaltado o coração-casa fincado no aterro, medo de que passando por lá acabe parando sob a árvore e queira então desenrolar papéis antigos.
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