H, meu amigo, não vá por aí, tampouco por
aqui. Qualquer direção precipita o dito, e toda escolha é também o fim da linha.
Conheço você há tempo suficiente pra
entender que tem evitado tudo isso por uma razão que talvez não entenda.
Não é brincadeira, H, viver não é preciso.
Lembra da foto na praia? Então. Aquilo também
mexeu comigo, também me fez tremer um pouco, sobretudo agora nesse período de
festas e coisas tais que nos colocam meio tristes. Já pensou na tristeza que é
uma árvore de Natal, por exemplo? Um rosário com bolinhas de neon na entrada do prédio?
Tudo tão enfeitado, tão excessivo, inflacionado.
H, meu irmão, meu alter-ego, minha sombra na
qual projeto tanto de medo e de coragem, tanto de amor e de vida. Não se canse, não
se renda, não se amole com essa conversa de que as coisas passam.
Nada passa, H. Tudo é permanência.
Outro dia li uma carta que você escreveu a um
amigo que não pediu sua opinião, mas, como contigo é sempre assim, um eterno
implicar-se nas coisas alheias, nas desgovernanças dos outros, você se via ali
na obrigação de desatar seja o que fosse. Acho que pensava mais em si. No
fundo, acho que sempre está preocupado consigo.
Eu já disse, é inútil repetir: não vá por
esse caminho. Qual? O da culpa.
O da mentira. O da lenta perdição. O do progressivo esmorecer. O do inexorável entorpecimento da capacidade de sentir. O do inevitável cinismo de quem já fracassou uma vez e agora intui que a vida não é mais que autoengano.
O da mentira. O da lenta perdição. O do progressivo esmorecer. O do inexorável entorpecimento da capacidade de sentir. O do inevitável cinismo de quem já fracassou uma vez e agora intui que a vida não é mais que autoengano.
Viver é tanto, H. Não fique à toa pelo caminho, parado no acostamento.
Não teime, é um trabalho árduo encontrar-se e
poder fazer o que fazemos aqui neste momento: um papo sincero com cerveja na
mesa e coxinha de frango empanada, um cigarro e gente falando pelos cotovelos. O mar bem perto, a brisa, o sol brando, na
areia poucos casais e uma música mais distante batucando ritmicamente. Funk?
Não conheço essas novidades.
Quer mais o quê, H? Olhe pros lados. Olhe
pra frente, homem de Deus.
O garçom está rindo, eu sei, mas é que apenas
os garçons compreendem certos impasses do espírito humano. Os garçons, esses
lacanianos por excelência.
Feliz Natal.
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