Uma mistura de coisas,
roupas, pedaços de livros, cacos de fotografias que foram se juntando e agora
formam um mosaico de vidas que antes eram partes móveis de outras igualmente
partidas e juntadas ao gosto da sorte, tudo por obra e força de quase nada, tudo em
perfeita harmonia com o descaso do acaso.
Uma vida em mistura, rotinas,
horários, coisas que se grudam por força de atração gravitacional, horas que
engordam de tarefas que precisamos executar porque estamos cheios de uma
matéria que não sabemos, mas talvez seja felicidade. Uma felicidade que,
ninguém suspeita, é a grande novidade. E uma novidade que, mal sabem
os que falam ou os que calam à passagem do amor, também tem sabe a tudo que pede
que fique.
Uma coisa de imiscuir-se no
outro sem ter onde começar, tampouco terminar. Uma vida cada dia mais em
compasso de outra coisa não sabida. Uma vida sem medo, um amor
que não é medo nem morte, mas amor. Um medo de não amar o amor que não é medo. Uma
morte que não amar é. Um medo de morrer antes do amor.
Os mortos de amor, os trágicos e velhos, os mortos de sobrecasaca, os mortos de cansaço, os mortos por engano e os mortos muito jovens, os mortos por dolorosa despedida e os mortos por cansarem de esperar, os mortos que não esperaram e ainda estão vivos, os que se recusam a morrer e os que morreram desapercebidamente.
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