No último sonho me despia no sofá para um
casal de idosos que perguntava com insistência se seria capaz de felicidade.
Assim mesmo, como se a felicidade fosse uma
faculdade, uma habilidade mediante a qual nos tornamos mais ou menos contentes
com aquilo que fazemos da vida. Eu era feliz, sim, mas não sabia se tinha esse
atributo. Além da felicidade, eu seria capaz de tornar outra pessoa feliz?
Acho que esse era o objetivo da pergunta, não
tanto interrogar minha própria felicidade, mas saber se ela se estendia a outra
pessoa, se poderia alcançar o alheio. Em última instância, se podia atravessar
uma fronteira.
Tinha acabado de acordar, estava nu, coberto por um lençol. Era uma casa estranha com pessoas estranhas. Apenas um
rosto era conhecido. Todos estavam vestidos.
De repente me vi sozinho com o casal. A mulher
falava, o homem observava. Um olhar judicioso de quem mede cada centímetro da
superfície perscrutada.
Trocamos poucas palavras. Narrei episódios da
minha vida pessoal, disse que havia casado muito cedo, ainda aos 19 anos. Portanto,
não sabia ao certo o que era estar sozinho. Nunca havia me sentido inteiramente
só.
Falei que tinha uma filha e que a amava mais que
tudo. Ela sorriu.
Depois foram embora. Eu levantei e o lençol caiu, mas já não havia ninguém pra ver. Minha nudez não tinha testemunha.
Depois foram embora. Eu levantei e o lençol caiu, mas já não havia ninguém pra ver. Minha nudez não tinha testemunha.
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