Digo desejo, e tudo se move num segundo. Afetos
parados na porta de repente andam pra lá e pra cá, gostos de saber na boca a
distância. Suores acumulados e fluidos contidos, dedos descasados procurando
uma casa onde possam revirar baús de carne e pelos quentes que se molham quando
tocados.
Digo desejo, e nada se move, tudo em redor se
paralisa, como se alguém gritasse no meio da rua num sábado à tarde: incêndio,
crime, roubo, assalto. Uma onda elétrica de imobilidade.
Desejo, e a palavra vai sulcando no ar um
caminho que leva a outro desejo, como rotas aéreas, boeings que se encontram e
não se batem. Bicos que se chocam.
Desejo, e os muros da cidade pintados com a
palavra de repente sorriem no anonimato das coisas que acontecem sem ter de
acontecer.
Desejo, e nenhuma criança para de saltar no
pula-pula, soltas de qualquer perspectiva de sofrimento, passado, presente ou
futuro.
Desejo, e me pergunto finalmente se o vendedor de churrasquinho ainda ama a mulher que o auxilia e que pergunta se sou ainda moço, se sou pai, se sei o que acontece quando dobramos a esquina.
Desejo, e me pergunto finalmente se o vendedor de churrasquinho ainda ama a mulher que o auxilia e que pergunta se sou ainda moço, se sou pai, se sei o que acontece quando dobramos a esquina.
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