Um poema que passa diante dos
olhos nunca é uma escolha, é como um bólido, uma estrela ou amor que chega e
vai ou vem.
É o poema que não escolhemos
o que mais gosto de ler. Como este de Orides Fontela, peças móveis, desmonte e sorte, coisas que não quero lembrar porque ele passou e eu não.
Um poema que segue e ricocheteia e depois não recordamos é a ideia de um poema de passagem, que não fica, um poema móvel. Uma memória de falta, o próprio texto convertendo-se naquilo que chama de brincadeira: suas palavras e sons
percutindo uma superfície vaga de carne e pele e ouvido, fixando estruturas no mais fundo, dando permanecer o que era perecível.
Procurar a ossatura do poema que falta
é como tatear a forma antiga do amor. Há que se colocar acima e abaixo, sempre em frente, em todos os lugares. E, por
pinceladas, delinear os contornos, sem jamais descobrir finalmente o desenho
original.
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