Amigos, quando a barra pesar,
façam faxina.
Limpem o banheiro, munam-se
de vassoura, rodo e pano e mãos à obra. Um bom esfregão é melhor que poesia. Um
Bombril é mais eficiente que terapia.
Esfreguem tudo com afinco,
dedicando-se de corpo e alma a cada centímetro quadrado de sujeira que
encontrarem no chão da sala ou em qualquer outra parte da casa. Concentrem-se sobretudo
nos cantinhos, que são os locais onde o inservível se acumula, gerando pequenos
monturos domésticos que depois se transformam em Megazords, fagocitando todo o
resto.
Removam, embalem e joguem fora.
Não é caso de deixar nada
brilhando, nada disso. Nenhuma superfície fica 100% limpa, nenhum tampo de mesa
reflete com perfeita acuidade a imagem da gente. Há sempre uma marca de dedo em
tudo que fazemos, sempre uma mancha de oleosidade que fica, um rastro do que somos
mesmo quando empenhados em limpar.
Dizem que 90% do lixo em casa
consiste em pele morta, células que depois viram poeira. Então, de algum modo,
faxinar é limpar o próprio corpo, livrar-se de uma camada que não serve mais.
E, além disso, o objetivo não
é somente deixar tudo reluzente, mas limpar ativa e demoradamente. Sincronizar
a respiração com o pano de chão, equilibrar as energias com o detergente, reorientar
os fluxos com o vaivém da vassoura e do rodo.
É um budismo doméstico, uma
meditação alvejante, uma reeducação não pela pedra, como queria João Cabral, mas
pela pia.
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