Peço ajuda a K, digo que
preciso de uma palavra, qualquer uma. Explico que é um mote para algo que não
sei ainda. Ela me envia uma música. “Qualquer palavra serve.”
Escuto. Embora não esteja com
ânimo pra ouvir, deixo rolar enquanto escrevo e leio. Paro um pouco. Murmúrios,
umas frases soltas, coisas desconexas. No meio da confusão sonora, distingo “amor”.
A música termina, ainda não
tenho ideia do que fazer, mas a expressão “qualquer palavra serve” acaba
ficando.
Penso em João Silvério
Trevisan e no seu novo livro, “Pai, Pai”, no qual revolve o magma das relações
familiares. Revira a própria vida, expõe-se, dá-se a ler sem pudores, sente que
foi além ao falar tanto mas já é tarde. Talvez tenha se arrependido. É um
sentimento com o qual uma hora ou outra temos de lidar.
Imagino o sofrimento, mas
Trevisan fala também sobre o processo curativo da escrita. A capacidade de reviver
o trauma, a dor, percorrê-los novamente, agora com certo distanciamento, mas
não totalmente a salvo.
Nunca se está salvo quando se
escreve, adiante sempre o risco de se perder, embrenhar-se no escrito e não
tornar mais. Não a ameaça de habitar as próprias histórias, mas de sucumbir ante
a força que têm.
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