Ela perguntou de repente:
O que você quer?
Você, respondeu convicto, uma
certeza então impalpável, gesto inconsequente do qual não se arrependeria pelos
próximos meses. Até que finalmente chegasse o dia.
Disse sim. Continuou a
responder positivamente a todas as perguntas que lhe fazia, numa limpidez
desarmada que tornava tudo mais rápido. O tempo corria para ambos. Houve silêncio
depois.
Era madrugada de sábado, tinha
visto amigos nas redes sociais numa festa pra qual tinha se programado mas da
qual desistira horas antes. Agora estava sozinho em casa. Não queria nem
desejava nada. Levantou e foi até a geladeira, tomou água, acendeu um cigarro.
Uma conversa.
Contados todos os minutos, tudo devia ter levado pouco mais de uma hora. Duas? Talvez. Tinha memória ruim, dessas que eliminam convenientemente episódios, apagando vestígios de erro, ajudando a seguir em frente, escolhendo as cores e borrando os precipícios. Era uma memória trapaceira.
No dia seguinte acordaria sob
a marca de algo que finalmente acontecera, a sensação de que tinha se desatado um nó havia muito esperado. Aguardou que estivesse errado. A marca era um gosto, uma impressão, uma fantasmagoria.
Depois voltariam a se falar.
E depois. E depois.
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