Falar da família é um
esconderijo. É como se procurasse ali nos cômodos da casa antiga as razões para
entender o que se passa agora, quando o agora é tão colado em mim e eu mesmo me
estranho no que faço e sinto.
Então recuo no tempo, vou até
o pai e ao avô e iria mesmo até mais longe se houvesse conhecido os pais dos
meus pais, mas preciso parar no meio do caminho. Se quiser ir adiante, se
realmente precisar esticar a caminhada, terei de inventar que conheço os rostos
das pessoas que nasceram antes de mim e dos meus pais e dar-lhes, além do
rosto, um sentimento, características, modos e raivas, amores e coragens que eu
mesmo sei apenas de passar por perto.
Até pensei nisso certo dia
quando, no carro a caminho da casa da mãe, perguntei ao pai quem tinha sido seu
pai. Ele resumiu parte da história, mas, como acontece ao se contar qualquer história, esteve também às voltas consigo mesmo.
Talvez seja isso que precise
fazer agora, voltar no tempo, andar pra trás pra aprender novamente a andar,
desfazer-se das pernas que tenho e deitar umas horas no chão.
Retroceder até outra cidade, até outra família, encontrar outras pessoas que depois viriam a ser as minhas pessoas.
Retroceder até outra cidade, até outra família, encontrar outras pessoas que depois viriam a ser as minhas pessoas.
Comentários