Hoje, quando nos reunimos,
sempre lembro desses momentos nos quais a gente prendia a respiração e esperava
que tudo passasse. Eu era mais velho, então as coisas aconteciam num universo
diferente pra mim. Meus irmãos tinham as boy bands e os amigos
do bairro novo com que se entreter.
Eu tinha terminado um namoro –
ela tinha terminado comigo. E precisava lidar com a separação dos meus pais.
E fiz isso da maneira mais
inadequada: esqueci. Coloquei de lado e me concentrei em futebol de botão,
videogame, uma nova namorada e sair da escola. Depois descobri que podia ler e
me esconder de tudo nos livros. Só finalmente aprendi a me esconder de fato,
mas hoje não consigo tão bem.
Quando peço pra minha filha
de três anos se esconder na casa, ela corre e procura um lugar fácil. Nunca é
um esconderijo distante ou dentro do guarda-roupa ou no cômodo mais escuro. É
sempre visível, basta esticar o pescoço e a encontro. Espicho a vista e alcanço
um pezinho ou os caracóis dourados dos seus cabelos. E, quando nada disso funciona, ela mesma cuida em se entregar e diz: papai, estou aqui. Vem me encontrar.
Nessas horas imagino seu
sorriso apreensivo considerando-se a salvo dos outros e, ao mesmo tempo, precisando de todos. Sempre penso que, mais que qualquer coisa, ela tem medo, como eu tinha, de nunca ser encontrada. Medo de se extraviar na brincadeira.
Quero que me encontrem.
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