Um amigo envia um PDF antigo,
talvez de 2006 ou 2009, que faz lembrar não desses anos, mas de outros, talvez
2001 ou 2002, quando todas aquelas histórias ainda eram outras histórias e eu
mesmo era outro, não este de agora, um outro que tento reconhecer mas sem
conseguir, do mesmo modo como olho o agora e penso no mesmo da semana passada.
Apenas uma semana e tudo tão outra coisa que me pergunto se os anos passam mesmo na gente, se o tempo vaza, se a vida não é como no filme em que se tomarmos o corredor exato na hora exata damos com outros no futuro ou no passado, o próprio futuro e o próprio passado a mesma matéria maleável transportando memórias por meio desse rastro de sol coado que vem da copa e chega ao chão, como uma autroestrada.
Apenas uma semana e tudo tão outra coisa que me pergunto se os anos passam mesmo na gente, se o tempo vaza, se a vida não é como no filme em que se tomarmos o corredor exato na hora exata damos com outros no futuro ou no passado, o próprio futuro e o próprio passado a mesma matéria maleável transportando memórias por meio desse rastro de sol coado que vem da copa e chega ao chão, como uma autroestrada.
Você vê?, eu pergunto. É um
fiapo, uma nesga, um mínimo de qualquer coisa, e nisso continuo tentando fazer
entender que basta um pouco para que se faça o nada, que já é muito.
Não há resposta, apenas o
lance da cabeça e dos cabelos, as mãos sobre as coxas, as pernas juntas como se
se protegessem, os ombros levemente caídos e no pulso uma marca, uma marca de
outro tempo, todas as marcas de todos os tempos de repente estão ali,
confluíram para o mesmo corpo na mesma hora e instante.
Outro tempo como 2014 ou 2016
ou qualquer ano, e nisso estou novamente empenhado em fazer entender que o
tempo não precisa se repetir, que nada se repete na verdade e que o medo
governa mal quem dele faça companhia.
E como se pegasse também uma
autoestrada e entrasse numa casa-embarcação, uma casa-sonho, e nela chegasse ao
2029 ou ao 2031, anos ainda distantes mas plausíveis, anos que haveriam de ser vividos fosse como fosse, quem olharia pra trás? Como olharia
pra trás? Teria saudade ou apenas um leve amargor no peito?
Nenhum PDF que atravessa os
dias diz das coisas que levamos e das esquecemos pelo caminho. Nenhum reporta
bem a agonia. Nenhum falará desse breve rodopio de luz num dia qualquer cercado
por árvores quando tudo era uma passarinhagem e um lento passar de minutos sob o
mormaço da tarde.
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