Inventário. Leituras
interrompidas. Uma doença que não se
cura.
Pedalar contra o vento é um duplo exercício. Agosto e
setembro são meses de ventania, meses que arrastam atrás de si o que não se
sustenta. Meses que entortam a palha do coqueiro, que vergam, que dobram. Ventos
que arrasam.
Na altura da estátua canso e penso em parar, mas continuo. A
Iracema dobrando um arco. Uma postura eternamente flexionada. Sem descanso. Considero um pouco o que significa jamais relaxar, nunca parar de entortar a arma com
que se combate. A índia nunca sai da condição de combatente, está sempre na
defesa. Do quê? De si.
Respiro fundo e olho pro lado. O sinal do portão eletrônico,
o cheiro de peixe, a visão das tubulações enferrujadas na areia, um novo
letreiro na praia, pessoas param e fazem fotos. O L de Fortaleza é a letra mais
procurada porque forma um banquinho com sua perna. A cor, um lilás bonito,
também atrai.
Passa das 11 horas da manhã. O sol estala de tão claro
quando bate nas areias, a água esverdeada quebrando mansa, o espigão.
Um inventário. Tudo
se interrompe, nunca se completa.
Paro no bar e acendo
um cigarro. Do lado esquerdo um barquinho suspenso no final da ponte além da qual
há outro barco, este encalhado, todo ferrugem. Tudo é ferrugem.
A sensação de que algo passa e não alcanço, algo vai noutra
direção enquanto pedalo para outra esquina.
Um hidratante para espantar as
piores horas do dia e da noite.
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