Um mês depois.
Um parágrafo curto, breve, que não diga nada, não aponte pra
nada, não sugira nada nem embuta significações escondidas que depois serão
interpretadas como charadas.
Apenas o dito, cru. Um pedido de alegria por chuva ou
descanso de vista, como esses de bicicletas que apoiam o peso inclinado.
Um punhado de qualquer coisa reunida ao acaso da manhã de
quarta-feira entre tanta coisa escrita e pensada como imprestável.
Um começo do que não sabemos ainda. Um início de abismo em
direção ao qual a gente se atira sem medo.
E digo sem medo, mas tenho muito medo. Medo dia e noite. Medo
na hora e depois. Medo de não enxergar o que está aqui.
Hoje escrevi e me vi desconfiado do que escrevia, mas segui
em frente, vendo dois passos adiante e já preventivamente corrigindo as rotas.
Parece que tenho controle sobre o que ainda não veio. É mentira.
Hoje é quarta, dois meses depois e não apenas um. Retomo aqui
qualquer coisa que ficou pra trás.
Talvez a ideia de uma ideia de outra ideia.
Vou catalogar o que não sei. Uma exposição de razões
aparentes. Uma série de pequenos objetos não conhecidos ainda.
Tudo como num diário comum, ordinário, com entradas e
partidas.
Hoje choveu, fez sol, trabalhei e faxinei como num dia comum.
Hoje me desesperei mais uma vez. Como num dia comum.
Tudo um grande exagero que faz amplificar o menor.
Tudo um grande exagero que faz amplificar o menor.