Vendo tudo em retrospecto, o que não deixa de ser
um exercício melancólico, olhar novamente os fatos, agora com outros olhos,
olhos de outra pessoa que não a que tomou as decisões então sensatas mas que,
reexaminadas neste momento, parecem extravagantes, quando não claramente
equivocadas e motivadas por razões que se apresentavam como questionáveis tão
logo se tinha formado a convicção pessoal da qual resultariam.
Vendo tudo em retrospecto, fico pensando se não
deveria considerar a hipótese de que, qualquer que seja a decisão, jamais
parecerá correta.
Tenha a intenção que tiver, a gente não se
contenta, entende? É amoral. A moral da história.
E olha que pensei nisso relendo um texto publicado
dois anos atrás do qual tenho até certo orgulho, mas que me fez lembrar de
outro que me causa alguma vergonha. Logo, tratei de renegar.
Mas, imediatamente, lembrei também que o futuro
exerce um peso considerável. Tudo que não aconteceu, o que ainda pode vir, o
virtual, o hipotético, a possibilidade – tudo são variações do mesmo sentimento
de que a vida se desdobra linear e progressivamente, e não aos saltos ou regressivamente. Ou até talvez fique estagnada. Parada. A vida parou. Não anda
pra trás nem pra frente, está onde sempre esteve, e a ilusão de que avançamos
ou recuamos é apenas isso.
Ilusão.
Não acredito nessa bobagem, claro, estou fielmente
convertido à tese de que há progresso. As coisas se movem, e nada é por acaso. Nada.
Tudo implica tudo.
Quer uma razão transcendental? Eu não tenho. Quer algo
banal? Também não.