Foi o sonho novamente, o mesmo de antes, acordava e
andava um pouco sem saber, como depois da escola quando ainda era criança e
precisava chegar em casa por outro
caminho que não o de sempre.
Daí tentei uma rua diferente. E outra. E mais outra
ainda. E me perdi.
Fui encontrado muitos quarteirões depois, noutro
bairro, um amigo do pai me levou de volta na garupa da bicicleta. Em casa, o
pai chorava na cozinha. Até hoje não entendo por que o pai chorava na cozinha e
não na rua. O que o pai fazia em casa.
Era a maneira dele de tentar me encontrar. Contar com
a sorte.
Outra vez foi ainda mais curioso: fui atropelado
voltando pra casa de madrugada. Em casa, o pai de novo em desespero. Não lembrei
de placa nem modelo do carro, apenas que tinha perdido o retrovisor.
Era o mesmo que tinha me atropelado.