E continua, mesmo sem continuar.
Não sei quem
disse isso.
Pensei que seria bom estar agora perto daquela
parte da orla em que os navios ficam encostados como se à espera, mas sem
esperar de fato mais nada da vida, navios parados sem expectativa, senão
continuarem exatamente onde estão. Carcaças,
eu disse, e você concordou.
Ou voltando pra casa de ônibus do terminal, numa BR
escura, meio escorado na janela, meio de lado na cadeira,
procurando um jeito confortável de estar ocupando uma cadeira num ônibus que se
desloca a 80 km/h numa BR entre um bairro e outro, vendo pelo caminho pizzarias
cheias e famílias inteiras ao redor de garrafas de Coca como nativos celebrando
um totem.
Tudo vazio, exceto pelas varandas e fachadas de motéis.
O contraste entre dentro e fora, o zumbido de lá e a música de cá, essa festividade
medida e controlada e a ânsia de algo que ninguém explica, ninguém define,
ninguém conhece.
Era essa a agonia.