Não acreditava
que fosse, até que descobriu. Era.
Correu
à geladeira. Faltava.
Ligou
o telefone. Desligado.
A TV.
Fora do ar.
A internet.
Suspensa.
O trânsito.
Parado.
O
fluxo sanguíneo atrás da cabeça, apenas atrás da cabeça. Lá continuava tudo
como antes, apenas que. Suspense.
Foi à
janela: aberta.
Espiou
a vizinha: vestida.
Bateu
à porta: seguiu-se o diálogo – oi, olá, tudo bem? posso lhe dizer algo? Já está
dizendo desde a batida na porta.
A vizinha
tinha humores como os de uma matrona qualquer, uma velha senhora que limpava a
maçaneta e depois polia o fogão e beijava o azulejo do banheiro enquanto se
masturbava.
Não entendia
a vizinha.
Mas, quando viu, já era.
Quando
viu, já. Era.
Quando.
Viu que já era.
Não acreditava
que fosse, até descobrir que, antes de ser, tinha sido, e seria mesmo depois
que ambos já não fossem, e o que parecia confuso, lido assim, entre idas e
vindas, tinha a claridade de um relâmpago.
Era mais
ou menos assim que tinha se sentido durante o dia. Como se tivesse algo a
dizer. Não tendo.
Mas leu
também que a forma é o dizer, não há um sem o outro. Logo, espera estar dizendo
sem dizer. Plenamente de acordo com o modo tortuoso como as coisas se deram ao
longo dos últimos anos.