É
tudo o mesmo movimento de desabituação, que é o modo sereno de olhar as coisas
e nas coisas descobrir um explosivo, uma granada, uma mão suspensa dando até
logo pela milésima vez.
Olhar
pela janela e não ver o prédio em frente com as luzes acesas e um cabide na
varanda, mas as luzes lá atrás, muito depois da BR e do último bairro da
cidade, formando um campo de gafanhotos que voltam pra casa depois de um dia
inteiro de trabalho.
O
limiar. Liminar. Limítrofe. Essa sorte de palavras que dizem por encanto,
comunicando um segredo que vai além da acepção do dicionário.
Liminarmente,
estar no limiar, no entrecho, à luz do lusco-fusco, preparando-se para alguma
grande mudança que não se sabe qual é nem quando virá. Como numa parada de
ônibus à espera da linha que já se extinguiu.
O
pequeno drama doméstico da falta d’água à 1h37 da manhã. Na TV nunca mais o
chuvisco de antigamente.