Memória é o redesenho do possível. Mudam-se as frases, as fotos, as distâncias. O trajeto e a até a latitude. Do pouco que permanece, inventa-se a refeição do dia. Faltam duas.
Um telefonema,
e a porta se abre: trocaram cacos do que tinha restado. Não era muito, não era
pouco. Serviram-se café e cigarros. Logo amanheceria.
Assim
começa: a chave é o tempo, que, para ambos, corre de modo diferente, ora apressado, ora compassado. Um todo feito de entrega e reverência, outro de susto e circularidade.
Marcou
de ver um filme, acabou atrasando. Ficou em casa. Assistiu desenho animado, fumou,
abriu uma lata de refrigerante e admirou-se com a intermitência das luzes. Era fim
de tarde, quase noite, e ninguém esperava que nada realmente fosse acontecer.
Até que, quando nada realmente aconteceu, pôs-se de pé e abriu um livrinho ao acaso, balbuciou qualquer coisa ao telefone e repetiu que amanhã seria diferente não porque quisesse, mas porque haveria de ser mesmo.
Até que, quando nada realmente aconteceu, pôs-se de pé e abriu um livrinho ao acaso, balbuciou qualquer coisa ao telefone e repetiu que amanhã seria diferente não porque quisesse, mas porque haveria de ser mesmo.