Pular para o conteúdo principal

Livros, livrinhos e livrões

Dicas rápidas para quem está procurando um livro desesperadamente e não encontra. E há quem procure assim mesmo, catando não estante. Eu faço assim: gasto todo o meu tempo procurando. Vale a pena. Ficar ali, à mercê das lombadas. Mas é aflitivo também, sabe? Olhar e olhar e olhar. Os vendedores começam a desconfiar, os seguranças passam a dar rasantes perto da gente, principalmente se você anda de mochila, tem barba e calção folgado com muitos bolsos. Imagine cada bolso com dois livros pequenos. É assim que um segurança olha pra você. 

Gosto de listas e gosto de procurar. Gosto de perder a noção quando procuro. Era assim na biblioteca do Sesc, no Centro. Também lá ficava desse jeito, com cara de abestado, sem saber ao certo o que levar – até encontrar "O lobo da estepe". 

Enfim, procurar e encontrar. Outro livro que achei foi "O caso Morel", do Rubem Fonseca. Mais um: “Água Viva”. Se alguém quer se perder e sofrer um pouco, leia esse livro. 

Sobre novidades: tem o livro de poemas da Ana Martins Marques, “O livro das semelhanças”.

Tem o livro novo do Javier Marías, “Assim começa o mal”.

E não custa repetir: “Estação Atocha”, de Ben Lerner, e “Ângulo de Guinada”, do mesmo autor, publicado em e-book pela E-galáxia.

“Homens sem mulheres”, do Murakami. Comecei a ler – gostei de alguns contos, doutros desgostei e estou decidindo o que fazer com o restante do livro. Adoro o Murakami, mas tenho lá alguma reserva. Lido com ele como lido com cachorro: em alguma hora ele vai me morder.

"O circuito dos afetos", do Vladimir Safatle – para quem quer rodopiar um pouco e mexer nas válvulas do corpo.

Não sei se estou esquecendo algo que comprei recentemente. Provavelmente sim. Do mesmo modo como a gente encontra, a gente perde. E perder é bom.

Perdi muitas leituras pelo caminho. Me perdi porque não me levaram pelo braço, não gostei da prosa, empaquei em erros de revisão etc.

Postagens mais visitadas deste blog

Museu da selfie

Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por

Cansaço novo

Há entre nós um cansaço novo, presente na paisagem mental e cultural remodelada e na aparente renovação de estruturas de mando. Tal como o fenômeno da violência, sempre refém desse atavismo e que toma de empréstimo a alcunha de antigamente, esse cansaço se dá pela falsa noção da coisa estudadamente ilustrada, remoçada, mas cuja natureza é a mesma de sempre. Não sei se sou claro ou se dou voltas em torno do assunto, adotando como de praxe esse vezo que obscurece mais que elucida. Mas é que tenho certo desapreço a essas coisas ditas de maneira muito grosseira, objetivas, que acabam por ferir as suscetibilidades. E elas são tantas e tão expostas, redes delicadas de gostos e desgostos que se enraízam feito juazeiro, enlaçando protegidos e protetores num quintal tão miúdo quanto o nosso, esse Siará Grande onde Iracema se banhava em Ipu de manhã e se refestelava na limpidez da lagoa de Messejana à tarde. Num salto o território da província percorrido, a pequenez de suas dimensões varridas

Conversar com fantasmas

  O álbum da família é não apenas fracassado, mas insincero e repleto de segredos. Sua falha é escondê-los mal, à vista de quem quer que se dê ao trabalho de passar os olhos por suas páginas. Nelas não há transparência nem ajustamento, mas opacidade e dissimetria, desajuste e desconcerto. Como passaporte, é um documento que não leva a qualquer lugar, servindo unicamente como esse bilhete por meio do qual tento convocar fantasmas. É, digamos, um álbum de orações para mortos – no qual os mortos e peças faltantes nos olham mais do que nós os olhamos. A quem tento chamar a falar por meio de brechas entre imagens de uma vida passada? Trata-se de um conjunto de pouco mais de 30 fotografias, algumas francamente deterioradas, descubro ao folheá-lo depois de muito tempo. Não há ordem aparente além da cronológica, impondo-se a linearidade mais vulgar, com algumas exceções – fotos que deveriam estar em uma página aparecem duas páginas depois e vice-versa, como se já não nos déssemos ao trabalho d