Era tarde, quase noite, esse
lusco-fusco, uma indefinição que se transforma em cor, intercambiando
sentimentos.
Era quase ano novo, as lojas ainda fartas de
sobras de Natal, presentes dependurados nas prateleiras, a ressacada da boa
vontade, o entre o tempo, dois feriados assim espremidos e no meio deles a
rotina capengando.
Maré baixa, quase alta, abriu a mochila e
sentou. Tinha esquecido que não faltaria, tinha combinado que não faltaria, mas
acabou faltando e esquecendo.
O bonito do lusco-fusco é a transição
cromática, a confusão, pensou que um extraterrestre não saberia distinguir a
hora de recolher e a hora de despertar.
Os bichos, galinhas e vacas, conhecem
o circuito invisível que regula as horas, mesmo sem saber o que são horas nem
caminhar com relógios.
É um entendimento frágil esse de
tocar o tempo e vê-lo passar.