“A poesia de uma álgebra desconhecida” é a poesia desconhecida ou a álgebra de uma poesia desconhecida? Desconhece-se o que, afinal, a poesia ou álgebra, mais uma que outra, ou ambas em porções iguais? Sabe-se nada do que vai adiante do nariz, ou apenas no caso da poesia é que o desconhecimento se mostra potencialmente relevante?
Contentar-se com o que se sabe é
sinal de que atingimos o gozo, estamos satisfeitos com a relação
custo/benefício ou é meramente uma acomodação de desejos tendo em vista que
estar à procura da poesia de uma álgebra desconhecida no dia a dia, sem essa
retórica surrealista, traduz-se mais por dor e sofrimento e menos por encanto e
paixão?
São perguntas que não se respondem
numa tarde de sábado em Fortaleza, enquanto a cidade silencia e da varanda de
casa consigo enxergar a tampa do estádio de futebol onde agora dois times se
esbatem na luta por uma vaga na divisão de acesso.
De todo modo, não custa tentar entender
as maneiras de se assustar, que é outra forma de estar à procura dessa
manifestação poética enigmática jamais encontrada em estado in natura, apenas
especulada.
A álgebra desconhecida, seja poética
ou não, já é um problema e tanto. Pensar numa linguagem que está além da
linguagem, uma que somente é intuída, nunca tocada, vista apenas em delírio ou
quando, no fim da noite, após desatarmos os nós de praxe e a vida parecer menos
uma sucessão de movimentos previamente agendados, os astros se dispõem no céu
de tal maneira que, puxa vida, acabam surpreendendo a gente.