O que é que a gente faz?
A gente olha prum lado, olha pra
outro, vê alguém sorrindo e sorri, olha pra frente, pra trás, se pergunta se
faz sol ou chuva, lamenta a morte, chora a dor, penteia os cabelos, se perfuma
e se programa, escolhe um filme no Netflix e desiste na metade.
A gente abre uma aba no computador e
fecha uma aba e reinicia a máquina e corta as unhas e ensaboa o cabelo e fuma
um cigarro no banheiro porque não quer empestear o restante da casa.
A gente instrui o taxista a entrar
por uma rua e sair por outra. E depois bate a porta. E atravessa uma rua.
A gente dá bom dia, boa tarde, boa
noite e resmunga baixinho um seja o que deus quiser enquanto sobe as escadas.
A gente atende ao telefone, desliga o
telefone e esquece o telefone.
A gente quer saber se é isso mesmo. É
isso mesmo.
A gente passa, então, a gostar disso
mesmo, a celebrar isso mesmo, a inventar que isso mesmo é realmente isso mesmo.
E talvez seja.
Mas a gente também desconfia que isso
mesmo é apenas meia verdade.