Numa semana. Tudo que
acontece numa semana. As coisas que faltam. As coisas que sobram. As coisas que
não sabemos e as que sabemos, as coisas que vamos deixando cair e as que vamos
juntando, como pequenos animais que esperam um inverno mais rigoroso do que o
habitual.
As coisas imaginadas e as
perdidas, as invisíveis e as iluminadas, as coisas que aparecem e as que somem,
as que saltam e as que deitam.
Sete anos após a morte de
DFW.
Vi um vídeo em que ele
aparece dando saltinhos numa rua qualquer. É incrivelmente triste olhar uma
foto e não se reconhecer nela, apenas traços vagos de uma vida que poderia ter
sido a sua – e não foi.
Estou lendo “A garota da
banda”, da Kim Gordon. É também uma leitura triste, mas de uma tristeza cheia
de potência artística.
Trinta anos, e a pessoa que
esteve ao lado durante todo esse tempo de repente é outra pessoa, mas sem
deixar de ter sido a mesma. Eis a traiçoeira exuberância da vida.
Como DFW no vídeo dando
saltinhos feliz, o marido de Kim aparece no último show do Sonic Youth em SP dando
tapinhas no ombro de um integrante do grupo depois de o casamento ruir após 27
anos de relação.
É assim que a Kim conta a
ruptura. Não conheço a outra versão, mas adoraria.
A vida é um nó no estômago
carregado sem perceber. Não há nada que a substitua.
O livro é bom. Erros de
revisão bobos, mas bem bom.
Uma escrita fluida,
conversada, levada adiante como numa sala doméstica, com café e música de fundo
ampliando ao universo o significado de cada palavra. Como as notas dissonantes da guitarra.
A distorção da música em
contraste com a clareza da prosa, que vai desenhando o duplo quadro
falimentar: Sonic Youth e o casamento.
Um edifício que desmorona ao lado do outro. Como as torres gêmeas na Nova York onde muitos atrás um jovem magro e alto de cabelos compridos conheceu outra jovem magra cinco anos mais velha. E depois disso as coisas nunca mais foram as mesmas.