A lista de tarefas incluía também escrever o que quer que fosse, mas aí, na hora marcada, no lugar combinado, mesmo com a vontade guardada, deu pra trás, esfriou, não conseguiu. O clássico broxar, tomar ares de broxa, o pincel usado para paredes. Ou brochar, o contrário de desabrochar, involuir, decrescer.
Pensou que listas de tarefas criam
parâmetros para o dia, que ganha ares de produtividade, que faz bem a quem,
como eu, como ele, precisa sentir intimamente que ao cabo de 24 horas algo ou
alguém justifica tudo isso.
Sim, tudo isso.
O que produzi de importante hoje? Videogame,
banho, comida, sexo, leitura, escrita, sono, reclamações, louça, os dentes
escovados, o dinheiro gasto no táxi e por aí vai.
O dia divididinho bonitinho entre as
coisas que quero fazer e as que tenho de fazer, entre as que não quero e as que
preciso, entre as que não preciso mas seria interessante tê-las e as que, mesmo sem precisar, quero com
urgência.
Exatamente como nunca achei que
faria, tenho agora uma lista nas mãos e enquanto olho pra lista tenho ganas de
desfazê-la em pedacinhos e os pedacinhos em pedaços menores ainda.
Até que não reste muito ou quase nada
do que planejei, até que reste o imprevisto.
Mas, de repente, lembro que, em
algum momento, anotei num canto de papel: ceder ao imprevisto e, um pouco mais
abaixo, a seguinte observação: ainda que tenha dificuldade de identificá-lo.
Na dúvida, dobrei tudo bem dobrado e
guardei no bolso da calça junto com uma conta de cinco meses atrás e um punhado
de areia da praia.