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E agora, é carnaval?



É carnaval, e agora? Quis saber, mas logo se arrependeu.

 A lista de tarefas incluía o videogame, caminhar ou correr, o que o fôlego permitisse, videogame, livro, filme, videogame, dormir, sexo.

No dia seguinte, lavar a louça e assistir à reprise das escolas de samba de SP.

Esperar. Se perguntar por que espera esperando.

DFW o encara, volumoso, no terceiro andar da prateleira, mais de mil páginas, ao lado dele Pynchon e Rem Koolhaas, um pouco mais acima um livro do Snoopy que comprou por causa de uma única frase. Que agora esqueceu.  

Escolheu Koolhaas, porque é pra um trabalho, disse a si mesmo, um trabalho atrasado, data de um mês atrás, um trabalho avulso do qual certamente vai se arrepender antes mesmo que tudo termine, um trabalho que, como todos os anteriores, pareceu em algum momento promissor, mas logo foi se tornando o que fato era: um estorvo.

Algumas coisas não mudam, outras mudam, sim, e nisso não há novidade, nem no que muda, tampouco no que permanece o mesmo depois de tanto tempo.

Pensa na Iracema, a índia-romance que completa 150 anos em 2015, juntamente com a seca, que faz 100 anos.

O tempo passa, mas a índia e a seca não envelhecem nunca.

Já são 14h19 e ainda não tomei café, talvez resolva fazer café antes de sair, talvez adie novamente a decisão, talvez o café não faça diferença numa sexta-feira antes do carnaval.

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