Que comece dizendo o que não sabia e termine por anunciar uma certeza antiga.
Uma frase
Sincera, curta, um pouco desajustada, dessas que fingem seguir o roteiro mas, lá pelas tantas, quando tudo levava a crer que cumpriria o trajeto estudado, muda e, decidida, salta pontuações e declara, sem meias palavras, que não sabe aonde vai e pergunta as horas a um homem distraído na parada do ônibus, que responde: quinze para as cinco, e eu também não sei.
Uma margem
Erro e acerto ao final se equivalem, mas sem alterar o resultado, que nunca se adivinha, nunca mesmo.
Uma previsão
Coisas que fatalmente acontecem são as menos previsíveis e as que nunca acontecem são as mais previsíveis.
Um temor
Reler o que escreve e descobrir que sempre esteve certo, mas pelas razões erradas, ou errado, pelas razões certas.
Uma alegria
Quando o concerto ordinário das ações cotidianas parece realmente isso, o concerto de uma orquestra bem ensaiada regida por um maestro empenhado em não fazer feio diante da plateia mais exigente, e nem o mais leve escorregão consegue estragar o dia.
Um final
Que se encerra sem.
Uma palavra
Que pareça fora de moda, mas soe desesperadamente atual.
Uma ideia
Que jamais custe as mãos ou os braços e as pernas, que não exija tanto, que, ao concretizá-la, devolva o sossego, que seja o que não parecia no começo, quando ainda estamos todos muito desconfiados.