Um
livro de instruções que não instrui. Um livro que contém setas apontando para
todos os lados e a cada esquina faixas exclusivas para pedestres, ciclistas e
motoristas, de modo que o fluxo nunca cesse, nem de um lado nem do
outro, o que no fundo seria ruim para quem apenas observa o trânsito e jamais
se encoraja a atravessar a avenida, seja em que sentido for.
Um guia
de consumo que sugere todos os produtos, inclusive os estragados, vencidos,
enlatados, carne para vegetarianos e ervas para quem não está nem aí, cebolinha
e alho-poró contra o deslumbre, beterraba para o azedume, cheiro-verde e
coentro para amenizar a angústia, beberagens para as decepções amorosas e chocolates
para suicidas.
Uma
obra necessária sobre objetos desnecessários, um livro que aponte aonde ninguém
pretende ir de férias nos próximos anos e talvez nas próximas décadas, uma referência sequer de história passada ou futura, uma
única praça importante com um busto entronado no centro arborizado e vazio, um único personagem cuja vida todos julgam saber sem de fato saberem de nada, nenhum museu de estátuas de guerreiros e intelectuais progressistas porque homens e mulheres que lutaram por liberdade encontram-se
nessa cidade misturados anonimamente a outros homens e mulheres que nunca
moveram um dedo.
Uma coleção
de pequenas e grandes irrelevâncias. Para combinar com tudo e todos.