Imaginem algo nunca feito. Nunca feito não quer dizer nunca imaginado. Como artista, a especialidade de Eliasson é fazer essas coisas que outras pessoas imaginam mas, por alguma razão, não fazem nunca.
O que mais gosto no Eliasson é essa tentativa de
capturar a vida num discurso grandiloquente que extrapola as escalas de objetos
cotidianos, criando um efeito de vertigem e alucinação em plena luz do dia.
Água, ar, fogo, luz, terra. Paisagens remontadas, a
vida em suspenso, o elemento refratado, quebradiço, exposto, a natureza
sujeitada a uma métrica humana, o simulacro do selvagem.
Um sol mortiço aprisionado na sala, um córrego
atravessa as paredes de um museu, uma escada serpenteia em direção a lugar
nenhum, um feixe de luz se desmembra.
O artifício recria a vida e a vida recria-se no
artifício.
O Eliasson é uma paisagem artificial.
Mas um artificial diferente, a lembrar que a vida corre
ali, ao lado, enquanto tentamos quantificá-la, empacotá-la e servi-la para
viagem.
Às vezes tenho a impressão de que a obra do Eliasson é um pedido encriptado para que a gente jamais esqueça de algo que a gente não pode esquecer. E que, salvo engano, já esquecemos.
É assim que me sinto quando vejo um córrego percorrendo cascalhos no meio de um cômodo de pé direito alto ou um arco-íris circundando um corredor.