Eu podia finalmente escrever essa história que tenho
pra escrever, pensou a personagem, porque nas histórias que escrevia as
personagens pensavam coisas alheias a seu universo e até contrárias, como no
caso dessa que vinha tentando terminar já há algum tempo, sem sucesso, talvez
porque as personagens dessa história tinham apego a falas sem fim, enredos
atravessados, rupturas etc.
Lembrou a razão de ter escolhido Captcha como título da
história, estava em dúvida se romance, conto ou novela, mas tinha certeza
quanto ao nome e achava isso o máximo. Mais a certeza que o nome, porque
lembrou também que já havia criado, gostado e esquecido outros tantos nomes. Aquele
ficara. Era especial.
A trama rendia, a personagem tinha rosto e voz, os
acontecimentos aconteciam diante dos olhos. Tinha história para cinquenta
páginas ou mais, ia depender da maneira de contar.
A história em si, Captcha,
era simples: uma garota escreve (o quê?)
para entender outra garota. Um romance entre duas garotas. Um típico amor em Captcha.
Eu podia parar agora e olhar pros lados à procura de uma loja de conveniência. E entrar nessa loja para comprar
cigarros depois de ter parado de fumar cinco anos atrás por causa de um
problema com meu pai. E fumar apenas um cigarro, unzinho, e em seguida jogar a
carteira fora, no lixo.
Mas talvez eu escolha fumar logo toda a carteira. O que
a personagem faria?